Voar é tão bom!!!!!
Aceitando como definitivo o modelo económico em que hoje o mundo ocidental vive, custa-me a crer que algumas situações que se passam diariamente connosco sejam passivamente toleradas sem que nada nem ninguém diga o que quer que seja para pôr alguma ordem na casa.
Peço desculpa ao caro leitor, por neste momento fazer transparecer alguma raiva nas palavras que escrevo, mas não posso deixar no entanto de me expressar com algum nojo com um tipo de transporte que me deixa particularmente nervoso, mas já lá vamos...
Comecemos por alguns fundamentos básicos do consumo que julgo hoje estarem bem intrínsecos no padrão de exigência do próprio consumidor. Falando por experiência, hoje não existe, por exemplo, nenhum equipamento electrónico que não tenha garantia, não existe nenhum estabelecimento que não tenha um livro reclamações, não existe um único estado desenvolvido que não tenha uma associação de defesa do consumidor, existe inclusivamente um código judicial que determina claramente o contrato e as consequências da resolução do contrato quando falamos de uma compra, ou seja, um contrato entre o consumidor e a empresa que fornece o serviço. Isso não só nos dá direitos como ao mesmo tempo nos confere a legitimidade para pôr em causa a conduta da empresa prestadora de serviços.
Pois bem, neste momento eu escrevo dentro de um avião. Estou numa daquelas maravilhosas filas do meio dos aviões que fazem voos intercontinentais, mas neste caso até estou com sorte... Estou na primeira fila do avião da classe económica. Ahhh essa maravilhosa fila que tem espaço para pôr as pernas e ir à larga... Tive sorte, cheguei cedo ao aeroporto para fazer o check in, ou seja 3 horas antes de levantar esta incrível invenção do homem. Estou no entanto enfiado no lugar do meio entre dois gajos que pesam no mínimo 100 Kg. O gajo da minha direita deve pesar no mínimo 130kg. Azar do caraças, estava com tanto espaço para pôr as pernas, mas não tenho onde pôr os braços.
Para vos localizar temporalmente, estou mais ou menos a meio de uma viagem de 10 horas entre Madrid e o Rio de Janeiro, para depois apanhar um avião para ir para Lisboa, para de seguida fazer uma viagem de carro de mais duas horas e meia no mínimo. Ainda não preguei olho, uma vez que não tenho inclinação no banco que permita estar confortável, para alem de ter uma cadeira, que por baixo do tecido foleiro que identifica a companhia aérea, deve ser de madeira, já tenho o rabo quadrado e dói-me só de pensar que ele existe. Para somar às minhas dores e às minhas insónias, soma-se a este turbilhão de sensações, é o terrível vicio de ser fumador, o que por sua vez me põe num estado de tensão muito fora do normal. Foi assim que comecei a pensar na “brincadeira” que as companhias aéreas fazem aos seus utentes e nós impávidos e serenos, assistimos e batemos palmas de pé.
Em função daquilo que vos vou apresentar de seguida, muitos de vocês até podiam dizer que se eu não gosto de viajar em económica que tivesse comprado a viagem em executiva. Mas eu não concordo com o principio de pagar mais por uma coisa que já é cara sob o pretexto de deixar de ser mal tratado, porque é aqui exactamente que reside o problema. Eu confesso que durante algum tempo desviei as atenções do foco deste problema, porque sempre achei que era um problema do transporte em si, mas tem tudo a ver com as companhias aéreas.
Ora vejamos então:
Um bilhete de avião, de um voo intercontinental, custa no mínimo 850€, aplicando neste caso uma viagem Rio de Janeiro - Madrid. Fazemos as malas para uma semana, vamos sempre com uma roupinha a mais, porque nunca se sabe se vai aparecer algum imprevisto, eu pelo menos funciono assim, e depois de fazer a mala, pegamos na nossa mochila e carregamos com as coisas do costume. Portátil, iPod, carregadores de telemóvel, um livrinho, uma pasta de dentes e uma escova de dentes, 2 pens e um disco externo carregado de filmes e séries para precaver as horas mortas do avião, e lembramo-nos que se calhar a mala está um pouco pesada... Existe um limite de peso não existe? À uns que dizem que é de 30 Kg, outros de 22Kg outros de 23Kg, mas existe um limite e uma pessoa sai sempre de casa a achar que o limite é mais que suficiente. Depois suponha o caro leitor que o voo sai às 20:00h. Mandam as regras estar 3h antes no aeroporto para fazer o check-in. 3 HORAS ANTES!!!!!! Sucintamente, vamos para o aeroporto cedo como o caraças e ficamos sempre 1:30h a “olhar para ontem”. Depois há os problemas da segurança. Como houve uns cabrões que decidiram espatifar um avião em cima de duas torres, outros cabrões decidiram decretar que o portáteis passam à parte, não se podem levar líquidos cujo volume da embalagem exceda os 100 ml, porque se assim for vai tudo para dentro de um saco transparente e já pode passar! Isto porque tem um fecho do género de uma embalagem de vácuo. Assim se o liquido representar algum perigo já não vai fazer mal nenhum, porque está dentro de um saco transparente com um fecho espectacularmente seguro. Depois vamos aos detectores de metais... Portáteis para um lado, mochila para o outro, cinto para caixa branca ou azul depende do aeroporto, juntamente com o passaporte, a carteira, o relógio, os anéis... e os sapatos... sim os sapatos... julgo que isto estará relacionado com o atentado à vida do saudoso presidente Bush quando viu uma biqueira 42 roçar-lhe a cabeça... e depois siga para umas micro cabinas com um “senhor agente” que olha para a nossa cara, olha para um ecrãn e deixa passar a malta para os portões.
Depois desta merda toda que demorou uma 1:30 a ser feita, corremos alguns riscos. A mala vai sem cadeado pode não chegar inteira, ou pode mesmo não chegar porque se perdeu no caminho, ou o avião atrasa-se e falhamos o voo de ligação... enfim podia estar aqui a enumerar um conjunto de porcarias que pusessem em causa a qualidade do serviço, mas não quero.
Finalmente estamos no avião. Viemos mais cedo, fumamos 4 cigarros à campeão para o efeito perdurar na viagem, fizemos o check in, passamos nos apitos, passamos no senhor agente e depois de termos mostrado umas 3 vezes o passaporte, porque estes gajos dos aeroportos são muito desconfiados, chegamos ao avião. O avião sai às 20:00, estou sentado no meio dos pesados, 20:30 e não vejo a hora de partir. Falam num suposto atraso, não dão justificações a ninguém o avião atrasa 3 horas. Ou seja, eu vim 3 horas mais cedo e esta merda atrasa 3 horas e ninguém me dá uma satisfação. Ainda não jantei, estou-me a guardar para a deliciosa comida do avião, estou cansado porque estou à 3 horas parado depois de ter estado outras 3 a passar em checkpoints de segurança, e ainda não levantei voo. Finalmente descolamos, e o comandante pede desculpa ao fim de 40 minutos de voo pelo atraso de 3 horas mas não diz porquê. Eu para palmadinhas nas costas já me chega o Jesualdo Ferreira... de seguida chega a deliciosa refeição de avião. Humm, é frango... ou “pasta”. Se me perguntarem, sabem ao mesmo, acompanhadas de deliciosos legumes mal cozidos, geralmente cenoura e feijão verde, um pão de borracha, que eu não tenho dúvidas funcionaria para material escolar, com uma deliciosa manteiga sem sal... Só nas bebidas é que não nos podemos queixar. Ainda assim, pelas minhas contas a refeição custa 10€. A seguir distribuem umas maravilhosas mantas e almofadas, que eu muito sinceramente não sei para que servem, porque não tenho como me mexer nem encostar e um par de head-sets de ultima tecnologia que um gajo tem que devolver no fim senão corre o risco de deixar mais algum na companhia. Depois vamos a ver filmes do século passado na televisão de alta definição do avião, ou então ouve-se rádio no canal 3 dos manípulos laterais onde antes estavam os cinzeiros para uma pessoa poder desfrutar o seu cigarro.
Ora, perante tudo isto, o QUE RAIO SE ANDA A PASSAR?!
O consumidor “mama” com tudo, paga uma pipa de massa e é tratado como um cão? Tudo é permitido às companhias aéreas. Voos atrasados, condições de espaço mínimas, eu próprio no voo para cá fiquei coxo da perna esquerda 1 semana porque não me mexia no voo anterior, horas de espera infindáveis por 800 e picos EUROS. Vão me desculpar mas soa-me a mau negocio. Aliás não tenho duvidas que esse é o resultado do sucesso das low-cost. As Premium airlines estão convencidas que se trata de uma questão de preço, mas estão muito enganadas. O consumidor não é estúpido. É uma méra análise de custo beneficio. O serviço de uma low-cost é igual ao de uma qualquer outra companhia. O consumidor não tem espaço nas duas, as hospedeiras fazem exactamente o mesmo, e não é uma refeição de 10€ que faz a diferença... e depois se queremos um tratamento que eles denominam de exclusivo, que para mim é o mínimo exigido, pagas o triplo ou o quadruplo, mas bebes champanhe antes de levantares. As companhias aéreas são o único negocio que eu conheço que obrigam o consumidor a adaptar-se às suas estratégias de aumentarem as margens do negocio, quando no restante mercado, o consumidor é mais atento, mais informado e obriga o comercio a adaptar-se às suas exigências.
Uma vez li que uma companhia aeria tinha poupado milhões retirando uma azeitona de todas as refeições, e outra que tinha tirado as revistas de bordo e que com a diminuição de peso poupava imenso combustível.
Face a isto, só espero que enfiem as azeitonas e as revistas bem enroladas num sitio que eu neste momento tenho quadrado, que é para sentirem bem o esforço e do comum dos passageiros.
Entretanto sugiro-vos que quando voarem, experimente os fantásticos copos de agua que eles servem a meio do voo. Ahhhh.... Fresquinhos.
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