
Há certos momentos nas nossas vidas que sendo banais na altura em que acontecem adquirem uma grandiosidade e importância incalculáveis quando, já quase esquecidos, são resgatados do fundo das nossas memórias.
Este episódio em concreto envolve 3 "bloggers" do GPS e remonta, se não me falha a já saturada memória, a um verão de 1998 na praia de Monte Gordo. Então inocentes petizes, motivados pela paixão da bola, inscrevemo-nos no torneio de futebol de praia da aldeia. A equipa foi preparada com cuidado. Os amigos veraneantes mais próximos foram convocados mas eram vários os entraves à participação.
O primeiro dos problemas com que nos deparámos foi a vontade indomável da irmã de um dos elementos da equipa em participar na dita competição. Era 3 anos mais nova que a maioria dos nossos jogadores mas verdade seja dita, só não comia a relva porque era areia o que cobria o pequeno campo improvisado nas traseiras do casino. Um exemplo de garra e vontade que nos ajudou e muito naqueles 3jogos que disputámos. Cedida a licença à Clarinha, foi quase instantânea a ordem firme para que esta ocupasse o lugar menos desejado dentro das quatro linhas... a baliza.
Outra das vicissitudes, para nao dizer obstáculo, era o facto de os algarvios das equipas residentes conhecerem os organizadores, sendo por isso, para a equipa deles concedido o livre trânsito a jovens marroquinos de 18 anos bem mais velhos que nós, europeus delicados. Indecente desrespeito pelas normas de participação num torneio tão prestigiado.
Ainda antes de começar a descrever o espectáculo há que fazer referência ao recinto de jogo. Como já disse, as quatro linhas marcadas com fita nas traseiras do casino em tudo se pareciam com os demais campos de futebol de praia, não fosse o facto singelo de ser também um autêntico campo de minas. E por minas eu reconheço cada uma dos milhões de sementes de cacto, cheias de picos e que se agarravam à planta dos nossos pés de maneira criminosa. Era um massacre, enquanto levantáva-mos um dos pés para tirar uma daquelas dolorosas espécie de carraça, éramos imediatamente cravejados por mais quatro no outro pé. A dor era aguda e obrigava-nos a sentar... péssima ideia, espinhos nos pés chegavam...
É claro que ao lerem estas desgraças devem pensar. Oh, tenrinhos, as condições eram iguais para todos. Pois eram meus caros amigos, a grande diferença é que os sacanas dos nossos sobrebronzeados adversários estavam prevenidos e calejados daqueles campos temíveis e apareceram no dia d munidos de dois pares de meias cada um...!
Correram então os jogos, fase que para nós se restringiu aos grupos, no fim da qual ocupávamos, orgulhoso pelo espírito de sacrifício um quarto honroso lugar. Marcámos 2 golos (um deles um penalty marcado por mim a um guarda redes manco. nao era manco por ser mau, era manco porque jogou o jogo quase todo ao pé-cochinho depois de se ter lesionado) e sofremos "alguns"!
Fomos, no entanto, vítimas brutalizadas da violência algarvia sendo que um dos nossos adversários foi expulso após entrada sobre o Bernardo Simões dirigindo-se de seguida para a mesa dos fiscais da partida e baixando os calções brindou-os com uma vista sui generis.
Foi assim passado um agradável fim de tarde em Monte Gordo.
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