

Escrevo hoje uma mensagem de apelo para que uma das maiores injustiças sociais da década de 90 seja relembrada como um exemplo triste a não repetir. O mui nobre povo cigano, conhecido pelo aguçado sentido para o negócio, o gosto pelas danças exóticas e rituais pagãos em torno da fogueira foi durante vários anos associado a essa marca esterilizada e insípida, vendedora de materiais médicos, fundamentalmente conhecida pelos adesivos e pensos rápidos com que frequentemente cobríamos os nossos doi-dois quando o beijo milagroso da mamã não se revelava suficiente. Esses brancos de tez escura e com alergia a água, conhecidos pelo nomadismo e residentes em Portugal, viram nas fitas intermináveis de pensos ainda por abrir o seu novo ganha pão. Deixaram os cestos de verga ou outras práticas isentas de imposto que até aí os sustentavam para se dedicarem quase exclusivamente à venda desse bem de primeira necessidade que todos nós adorávamos.
Se é dado adquirido que qualquer uma das 3 pessoas que irão ler este post não precisará de vasculhar muito no baú das memórias para recordar a sensação do arrepelar dos primeiros pelos pela cola poderosa dos produtos hansaplast, é também certo, corrijam-me se estiver enganado, que nenhum de nós se lembra de os termos comprado ao "aníbal" ou ao "joaquim", pequenos ciganos que deambulavam pelo parque automóvel do Prisunic.
É aqui que eu atinjo o nervo do meu raciocínio. Como é que, durante tantos anos, foi tolerado o descredibilizar de um povo, a desmistificação de uma raça, a venda ao mainstream e ao comercial, quando o negócio nem sequer era produtivo?! Muito me apraz perceber que a raça cigana recuperou os padrões de imagem alternativa que os notabilizaram. O muco no nariz das crianças e a venda de produtos na caixa de uma carrinha branca voltaram a não ser vergonha para serem o símbolos de independência e prosperidade. É certo que a venda de dvd's pirateados começam a substituir novamente os cestos de verga mas eu acredito, no fundo da minha convicção que estes voltarão a vencer.
Assim me despeço, até um proximo post...mais facada menos facada!
Francisco Pimentel
2 comments:
É óbvio que uma pessoa que esteja a sair do Prisunic vai comprar pensos ao cigano em vez de comprar lá dentro.
Eu acho que os pensos eram só uma desculpa para eles poderem andar por ali a chular a moedinha do carrinho de compras, os saudosos 100 escudos. E por aqui se percebe como o negocio era rentavel, um gajo punha-lhes 100 escudinhos na mão e depois como n queriamos os pensos vinhamos nós de mão a abanar, 100% de lucro meus amigos!!
P.S. Prisunic, que belo nome, pq é que o Belmirinho mudou aquilo pra Continente, n se percebe..
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