Friday, March 07, 2008





















Escrevo hoje uma mensagem de apelo para que uma das maiores injustiças sociais da década de 90 seja relembrada como um exemplo triste a não repetir. O mui nobre povo cigano, conhecido pelo aguçado sentido para o negócio, o gosto pelas danças exóticas e rituais pagãos em torno da fogueira foi durante vários anos associado a essa marca esterilizada e insípida, vendedora de materiais médicos, fundamentalmente conhecida pelos adesivos e pensos rápidos com que frequentemente cobríamos os nossos doi-dois quando o beijo milagroso da mamã não se revelava suficiente. Esses brancos de tez escura e com alergia a água, conhecidos pelo nomadismo e residentes em Portugal, viram nas fitas intermináveis de pensos ainda por abrir o seu novo ganha pão. Deixaram os cestos de verga ou outras práticas isentas de imposto que até aí os sustentavam para se dedicarem quase exclusivamente à venda desse bem de primeira necessidade que todos nós adorávamos.

Se é dado adquirido que qualquer uma das 3 pessoas que irão ler este post não precisará de vasculhar muito no baú das memórias para recordar a sensação do arrepelar dos primeiros pelos pela cola poderosa dos produtos hansaplast, é também certo, corrijam-me se estiver enganado, que nenhum de nós se lembra de os termos comprado ao "aníbal" ou ao "joaquim", pequenos ciganos que deambulavam pelo parque automóvel do Prisunic.

É aqui que eu atinjo o nervo do meu raciocínio. Como é que, durante tantos anos, foi tolerado o descredibilizar de um povo, a desmistificação de uma raça, a venda ao mainstream e ao comercial, quando o negócio nem sequer era produtivo?! Muito me apraz perceber que a raça cigana recuperou os padrões de imagem alternativa que os notabilizaram. O muco no nariz das crianças e a venda de produtos na caixa de uma carrinha branca voltaram a não ser vergonha para serem o símbolos de independência e prosperidade. É certo que a venda de dvd's pirateados começam a substituir novamente os cestos de verga mas eu acredito, no fundo da minha convicção que estes voltarão a vencer.

Assim me despeço, até um proximo post...mais facada menos facada!

Francisco Pimentel

2 comments:

Francisco Alves da Silva said...

É óbvio que uma pessoa que esteja a sair do Prisunic vai comprar pensos ao cigano em vez de comprar lá dentro.

Saca said...

Eu acho que os pensos eram só uma desculpa para eles poderem andar por ali a chular a moedinha do carrinho de compras, os saudosos 100 escudos. E por aqui se percebe como o negocio era rentavel, um gajo punha-lhes 100 escudinhos na mão e depois como n queriamos os pensos vinhamos nós de mão a abanar, 100% de lucro meus amigos!!

P.S. Prisunic, que belo nome, pq é que o Belmirinho mudou aquilo pra Continente, n se percebe..